sábado, 3 de fevereiro de 2007

Manifesto Liberista - Sobre o Fachadismo

MANIFESTO LIBERISTA – 3 de Fevereiro, 2007

Este é um blog sobre a Liberdade e sobre o Golpe de Estado Fachadista que está a sufocar a democracia, a liberdade económica e a liberdade ética.
A democracia pressupõe liberdade de informação, permitindo que qualquer cidadão possa fazer chegar a sua mensagem à comunidade. Esta liberdade informativa não se verifica hoje em dia. As novas ideias sobre a evolução social não encontram apoio financeiro, nem político, para se comunicarem a toda a comunidade. Os cidadãos só têm acesso à informação política veiculada pelos grandes meios de comunicação social. Estes são controlados por um conjunto restrito de grandes poderes. Nada garante que factos e dados técnicos incómodos para o poder político e económico cheguem ao cidadão. O episódio da falsa justificação para a invasão do Iraque marcou um novo período na manipulação informativa. A Internet escapa a este controlo mas está já tão sobrecarregada de informação que o cidadão se perde, sem encontrar as ideias inovadoras e descrição credível dos factos relevantes.

Tempos houve em que uma parte da classe média (os então chamados intelectuais de esquerda) controlavam os media mas, hoje, o cenário alterou-se e são os grandes poderes económicos que tudo controlam.
Se a intelectualidade descontente da pequena burguesia antes protagonizou uma campanha, nos media, contra os valores da paz social, da iniciativa económica, da tradição e da espiritualidade, agora é dominante uma campanha contrária, protagonizada pelos mais poderosos e seus agentes, contra o Estado, a cooperação e a simplicidade de vida. Aproveitando o colapso das experiências falhadas de economia pública planificada em ditadura e o ruir das empresas públicas monopolistas, nas sociedades ocidentais, geridas em nepotismo político, passa-se hoje a ideia que toda a economia pública é ineficiente e que não pode conter sistemas racionais de incentivo. Fazer passar a árvore pela floresta e a nuvem por Juno, é o método das generalizações abusivas que sustentam mais um embuste dos media.

Talvez, algures entre uma e outra campanha mediática, tenha havido alguma liberdade plural informativa mas é evidente que, hoje em dia, vivemos uma ditadura da desinformação.

Não só os media estão controlados. Também as Universidades foram submersas por uma onda de conforto económico e dependência de trabalhos feitos para empresas privadas, o que lhes retirou independência e incentivo reformista.

Os partidos políticos não escaparam. Corre-se o risco de virem a ser controlados por uma elite oligopolista, transformando-se numa monarquia de interesses, na qual os poderosos perfilham os delfins que garantam a inexistência de mudanças profundas e perigosas. Ninguém que não prestar vassalagem a barões terá alguma hipótese de ver consideradas as suas ideias. Não sendo ainda sempre assim, temos a percepção de que já assim é vezes em excesso.

O subtil Golpe de Estado Informacional está quase concluído. Um novo regime político está a nascer, baseado nas técnicas do marketing, da omissão, da manipulação informativa e da concentração de poderes. É o Regime Fachadista, o regime da fachada, das generalizações abusivas e das meias verdades para contar mentiras completas.

O aval das minudências algébricas das Universidades, corrompidas pelo dinheiro, e as investigações enviesadas para questões secundárias, generalizadas, sem fundamento e subitamente, por interesse político, até ao estatuto de lei absoluta e universal, completam o quadro férreo da ditadura da desinformação. A cientifização das ciências sociais é um projecto sério mas, por enquanto, imaturo. Ninguém se deveria arrogar a falar sobre opções políticas com base no tão pouco que até hoje se avançou na cientifização das ciências sociais, sobretudo na economia. Muitas pedras dessa grande futura catedral estão construídas mas e ilícito fazê-las passar por casas habitáveis pelos cidadãos reais. Ainda é muito cedo. As Universidades são hoje uma fonte de meias verdades que alguns universitários, moralmente corrompidos pela sede de poder e notoriedade, ajudam os media a fazer passar por verdades absolutas, em regime de descarada mentira anti-científica. Alguns universitários lutam ainda pela sua independência, outros tentam manter-se à margem mas em breve o mercenarismo poderá tornar-se o comportamento dominante.

O regime fachadista tem já os seus peritos que asseguram a sua eficácia.
São aqueles que sabem o que pode influenciar a opinião pública e sabem gerir a sua imagem e denegrir a dos outros. Os que corromperam o marketing e o usam para dominar por dentro dos espíritos.

Sendo assim construída a ditadura da desinformação, ficam criadas as condições para a destruição da igualdade de oportunidades económicas. O sistema político está prisioneiro dos proprietários dos media. Os grandes poderes do sistema económico escravizam a liberdade política e tornam irrelevantes os eventuais esforços económicos dos políticos. Os sistemas de capital de risco que deveriam assegurar a igualdade de oportunidades constituem uma minoria do sistema financeiro que os mantém dentro de estreitos limites. As assimetrias sociais cavam-se abissais, empurrando a classe média para a lixeira da história. A educação, em curso de quase completa privatização, tenderá a ser um luxo dos ricos e uma entrada estreita para o pequeno conjunto de pobres geniais nos estudos, rapidamente submetidos a uma lógica competitiva que os ultrapassa.

Num cenário de globalização intensa, o grande poder negocial das empresas internacionais, negociando condições com os diversos Estados, acaba por as isentar de impostos e de contributos líquidos sustentados. Neste cenário, de concorrência desleal, as pequenas e médias empresas não podem suportar os impostos necessários para sustentar o Estado e as suas acções equilibrantes.

O regime fachadista é um regime no qual o Estado se tende a resumir a questões de segurança de bens e das pessoas dos poderosos. É o mínimo do Estado Mínimo, para onde caminham todos os países de regime fachadista.

A participação cívica torna-se inútil e a única que subsiste consiste em associações que pedem esmola aos poderosos, fachadistas e colaboracionistas bem pagos, bem como a um ou outro honesto cidadão pobre mas cheio de generosidade.

A vida ética vai-se extinguindo também, sobre a pressão erosiva dos espectáculos violentos e superficiais dos media, cujo efeito é alienar e espalhar o medo que propicia à obediência aos grandes poderes, intelectualmente medíocres, que se façam passar por salvadores.

Com medo de perder uma clientela fiel mas, frequentemente, inculta, as Igrejas temem abordar as novas questões epistémicas e sociais, perdendo por isso eficácia moral. Assim, as Igrejas são incapazes de se distanciarem suficientemente do seu passado histórico, de conluios com a agressividade dos poderes instituídos. Radicalismos, salvacionismos e novos esoterismos toscos avançam, ocupado o vazio moral, de forma insustentável e facilmente manipulada por novos ou velhos centros de poder.

As novas ideias, oferecendo grande potencial reformador, são votadas ao ostracismo ou transformadas até se tornarem utopias inúteis.

É neste âmbito que é ignorada a possibilidade de um novo papel dos capitais públicos, produzindo riqueza em regime de livre mercado. É ignorada a criação de entidades que tornem transparente qual a melhor tecnologia e organização empresarial, em cada sector. A intervenção organizada dos consumidores no mercado fica fechada no voluntarismo consumista das associações de consumidores que nunca se chegam a desenvolver suficientemente.

As ideias sobre democracia com melhor informação, dando a base das decisões de eleitores e eleitos, é ofuscada por populismos utópicos de democracia participativa, bem como pela utilização litúrgica de fragmentos das ciências sociais, tentando convencer da impossibilidade e inutilidade das reformas profundas. Talvez só com a divisão do trabalho de avaliação das políticas por diversos grupos abertos de cidadãos, organizados e estudiosos, se poderá avaliar realmente a qualidade das políticas. A construção de programas políticos com objectivos verificáveis e devidamente ponderados, num indicador objectivo de realização desses programas, bem como a criação de instituições representativas vocacionadas para o longo prazo e, ainda, o vínculo entre a carreira remuneratória dos políticos e a evolução do estatuto social e económico daqueles que dizem representar, são algumas das muitas ideias reformistas que deveriam ser debatidas e transformadas mas que o fachadismo mantém nas masmorras da prisão política das ideias.

Muitas outras ideias fundamentais continuam ignoradas da generalidade dos cidadãos, como as novas ideias sobre regulação dos media, preservando a liberdade dos seus agentes e expandindo a liberdade dos consumidores, as novas concepções sobre políticas de civismo activo que, dentro das organizações, impulsionem o comportamento ético e ofereçam verdadeiras experiências que alicercem a ética, bem como muitas outras ideias, decepadas pela espada de silêncio e pelas estratégias de descrédito sobre o que não tem o aval das universidades nem o beneplácito do poder imobilista, submetidas ao peso político e económico do regime fachadista.

Chegou a altura de assumir que tudo o que antes aqui se escreveu é, possivelmente exagerado e pessimista. Todavia, onde estão as dezenas de investigadores capazes de, em conjunto, arriscarem as suas carreiras para estudarem as eventuais barreiras à entrada em cena de novas ideias de reforma social e novos canais informativos? No céu dos santos talvez mas esse lugar não cabe no regime fachadista.

A sede de poder dos agentes fachadistas e a sua crueldade contra quem se lhe opõe não é menor do que a de Átila mas os seus métodos são muito mais subtis. Que melhor invasão do que aquela que ninguém sabe que aconteceu, atribuindo os males sentidos a tudo menos aos invasores?

A liberdade foi a grande ideia contida no liberalismo e no socialismo. Todos estes movimentos morreram longe dos seus ideais mas algo deixaram que não devemos esquecer, voltando ao cerne destes ideais e ao estudo dos seus autores.
Por outro lado, as ideologias partilham com a pureza da religião o propósito de uma sociedade onde todos os seres, independentemente das suas capacidades, possam sentir que progridem para a felicidade. Apesar da prática das ideologias e das religiões ter ficado muito longe dos seus propósitos, é nessa luta, por um espírito que a todos possibilite um lugar de liberdade e esperança que estão hoje os liberistas, em luta contra o fachadismo.

Noutros tempos o mesmo espírito não aceitou as invasões pelos exércitos, não aceitou a persistência da escravatura nem a fome perpétua para o proletariado, não aceitou a violência imposta pela sede de poder que passa por cima de todos os valores para atingir os seus fins.

Porque alguns de nós sentem que a liberdade e o espírito da paz estão hoje outra vez ameaçados de morte, vimos pedir-vos que voltem a pensar sobre a liberdade e voltem a lutar, por vós e pelos outros, por uma liberdade informativa que permita viver a democracia.

José Moinho

3 comentários:

Jorge disse...

Caro Zé:

Apoiado!

...de facto, "dividir para reinar", é como mau hábito, quase tão antigo na história da humanidade como ela própria e todos os outros demais rituais de dominação.

... curiosa é a aparência/costume/vestimenta com que esse(s) mau(s) hábito(s) se vai(ão) recriando, repetindo e reinventando em ternos cénicos, ao longo dessa história.

O circo continua.

As feras já não são reconhecíveis de entre os palhaços, os equilibristas, mágicos, domadores e figurantes todos eles (p)actuando para que ao espectáculo não pare

... não pode parar?

... será que não pode parar?

... será que alguma vez, já parou?

...

e pronto aí está!

ao que estamos condenados!

Porque alguns de nós sentem que a liberdade e o espírito da paz ( e a paz de espírito) estão hoje outra vez ameaçados de morte, vimos pedir-vos que voltem a pensar sobre a liberdade e voltem a lutar, por vós e pelos outros, por uma liberdade plural mas também informativa que permita viver a vida.

Nota - a materialização do conceito de democracia que hoje vivemos, aproxima-se bastante da ideia atribuída a Aristóteles (sic) "... as primeiras origens desta definição podem ser encontradas no trabalho de Aristóteles que distinguiu, no seu livro Política, seis formas de governo, seja, por poucos ou muitos, e se a administração era justa ou injusta. Ele chamou de demokratia (democracia) um governo injusto governado por muitos,..." vide Wikipédia > http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia#Defini.C3.A7.C3.A3o_Alternativa_de_.27Democracia.27

Anônimo disse...

Amigo Zé Nuno:

Temos matéria em abundância e densidade para muita reflexão. A sua capacidade de pensar a vida contemporânea é inspiradora e condensa um conjunto de questões essenciais e de urgente socilização.

A grande questão que está implícita é a de como é que se generaliza esta discusão e se rompe a muralha mediática, mais interessada em construir identidades narcotizadas pelo consumo e anuladas pela fragmentação individualista levada ao extremo do autismo infantil e inconsciente.

Enfim, espero continuar a encontrar aqui e a partir de agora, um aprofundamento dos conceitos apresentados e das complexas e tantas veses preversas conexões que se vão entre eles estabelecendo. Seria de grande interesse continuar a desmontar esses mecanismos que nos vão condicionando a vida, e sobretudo ter a capacidade de o fazer em linguagem simples e acessivel ào desejavel alargamento participativo a mais pessoas.

Entre outras coisas, poderá também encontrar a virtude de relançar alguma esperança, nestes tempos que vão instalando o cepticismo em cada um de nós, perante o espectáculo degradante da aliança dos carreiristas do poder com os bolsos dos grandes interesse económicos.

A qualidadde matafórica encontrada neste texto vai concerteza ser mais um motivo de interesse, pelo evidente prazer literário a motivar o regreso a este blog. Parabens! Até breve!

Filipe Brás Almeida disse...

Peço desculpa por não ter prestado a devida atenção a este manifesto liberista que deixou num antigo blog meu.

Vou ler com atenção e tentar apresentar uma resposta em breve.

Um abraço!